oi, tudo bem? a última vez que estive por aqui foi no finalzinho de outubro, e confesso que fiquei com saudade desse espaço. precisava separar um tempo pra cuidar de outras coisas (e pra não fazer nada feat. descansar também), mas tô feliz de estar voltando hoje. espero que você goste da leitura dessa edição! um beijo!
É comum ver muitas pessoas falando que o ano só começa depois do carnaval e, além do montante de feriados, ainda tem uma explicação astrológica pra isso. Logo agora, no começo de abril, começa a estação de outono, que também traz muito a sensação de deixar algumas coisas irem para abrir outros caminhos. E todo esse percurso de transformação me lembra muito a Chihiro.
O longa-metragem de animação japonesa A Viagem de Chihiro (2001), dirigido por Hayao Miyazaki, conta a história de uma garota que está em fase de transição: com 10 anos de idade, ela vai caminhar pela travessia de sair da infância para ingressar na adolescência e, ainda, mudar de cidade juntamente com os seus pais, se encontrando — e se perdendo — em uma fronteira de espaço e tempo.
Durante o percurso da viagem, é possível observar, enquanto o carro passa, alguns monumentos e estátuas relacionados ao tempo antigo da cultura japonesa, que parecem ter sido abandonados ao longo do tempo na estrada e quase encobertos pela vegetação local, o que traz a ideia de um território pouco explorado, desconhecido ou esquecido pelas pessoas.
Ao continuar na estrada, Chihiro e seus pais se deparam com um monumento que barra a continuação do trajeto e que, assim como Jano Bifronte, possui duas cabeças: uma que olha para quem está vindo na estrada e outra direcionada à entrada do túnel. Pensando que se trata da entrada do local, o pai para o carro e desce, decidido a explorar o território, apesar de Chihiro, amedrontada, o alertar e pedir para que eles voltem.
Ao adentrar pelo túnel, o pai vai à frente e avisa para ter atenção “cuidado onde pisa”, e Chihiro o acompanha segurando nos braços de sua mãe. Há uma passagem cheia de portais que servem de entrada ou saída, como se representasse um entre-lugar, com vitrais coloridos e frestas, por onde entra a luz, além de vários bancos sem nenhuma pessoa, remetendo a uma estação, em que eles escutam o barulho de um trem passando. O portal por onde eles saem dá espaço a um lugar de céu aberto, cheio de casas, pedras, construções e monumentos quase encobertos pela vegetação.
Chihiro pede, novamente sem sucesso, para que eles voltem, mas o pai, com pose de explorador destemido, alega que o local deve ser um parque de diversão abandonado, entre os muitos que foram construídos no início dos anos 90 e faliram com a economia. Chihiro, desconfiada e sensível, corre para avisar à mãe que o prédio está gemendo, mas recebe a resposta de que é só o vento. Prosseguindo na travessia entre as pedras que estavam no caminho, o pai sente um cheiro bom e logo segue, farejando quase como um animal, para saber de onde o aroma vem: “por aqui”.
Enquanto passam por uma rua cheia de restaurantes vazios, Chihiro pergunta “cadê todo mundo?”. Até que o pai diz “aqui”, ao encontrar um local que oferece várias refeições com uma bela aparência, o que leva os pais a pegá-las para experimentar, enquanto a protagonista observa o espaço com uma certa desconfiança. Ela grita para que seus pais parem de comer, pois os donos do local podem ficar bravos, mas o pai apenas responde que pode pagar pelas refeições e, então, se serve e devora os alimentos com a mãe de Chihiro.
Chihiro, que não aceita experimentar nada do local, deixa os seus pais que não ouvem os seus pedidos comendo e parte para observar o que tem naquele lugar para além dos restaurantes. Ao chegar em uma ponte, que é ligada a um prédio por onde saem fumaças espessas e cinzentas, ela observa que embaixo dessa ponte há realmente a passagem de um trem, mas se assusta com a chegada de um garoto. Ele a alerta: “não pode ficar aqui, vá embora! Está quase anoitecendo [...] estão acendendo as luzes, vá!”. Ele pede para que ela volte ao outro lado do rio, enquanto ele os distrai.
Chihiro corre sem entender o porquê de tudo aquilo, e começa a avistar vários vultos sem rosto. Até que volta ao local onde seus pais estavam e percebe a tragédia que aconteceu: seus pais viraram porcos depois de se empanturrar com as guloseimas, passam a apanhar das sombras que atravessam o local e perdem as suas vozes e feições de humanos. Assustada, ela grita chamando os seus pais e, sem resposta, corre na tentativa de escapar. Ao avistar um navio iluminado com várias criaturas até então nunca vistas, ela começa a bater em sua própria cabeça e repete “é só um sonho”.
Apesar de desejar fugir daquela estranha realidade, já não há mais condição para isso: ela se vê perdida em um território completamente desconhecido e que mais parece um outro mundo, distante de toda a realidade que vivia e até de suas lembranças. Chihiro percebe que consegue enxergar o outro lado da sua mão, como se o seu corpo estivesse começando a desaparecer. Até que ela encontra novamente o garoto que falou com ela na ponte, e ele a oferece uma pílula, afirmando que ela precisa comer algo daquele mundo para evitar o seu desaparecimento físico, garantindo que ela vai ficar bem. Após mastigar e engolir o comprimido, como foi combinado, Chihiro toca a mão do garoto e percebe que não está mais invisível e, com isso, afirma “eu voltei” .
Na busca de libertar seus pais e a si mesma, para voltar ao seu lugar de origem, ela passa a trabalhar para uma bruxa, que pede para que ela assine um contrato e, logo em seguida, rouba o seu nome. Isso faz com que Chihiro passe a dizer que o seu nome é “Sen”, tal como a bruxa Yubaba determinou e, com isso, deixe de se lembrar como era chamada antes de viver nesse universo — que mistura a fantasia com o real, demarcando um entre-lugar onde tudo parece possível de acontecer, inclusive, o risco de ela nunca mais retornar ao seu lar.
Sendo chamada por outro nome nesse mundo paralelo, e embaralhando memórias com esquecimentos de seu passado, ela promete salvar os seus pais, que esqueceram de que eram humanos e, assim, continuam no corpo de porcos. O garoto que ela conheceu, chamado Haku, se torna seu amigo, e lhe entrega as roupas que ela estava usando ao chegar naquele outro mundo, e pede para que ela as esconda, avisando que ela precisará delas para chegar em casa. Dentro das suas peças dobradas de roupa, a personagem encontra um papel contendo o seu verdadeiro nome: Chihiro. Haku, então, a lembra da importância de não esquecer completamente o seu nome de nascença, assim como aconteceu com ele, e avisa para Chihiro que ela o guarde em segredo, para que ela consiga encontrar o caminho de volta para casa.
como podemos encontrar uma passagem para acessar outros espaços e retornar pro nosso interior?
quero aproveitar esse espaço pra falar sobre meu primeiro livro de poesia, Passagem de Ida e Volta, que foi lançado no finalzinho de 2022 pela Editora Folheando.
O livro fala sobre os caminhos que descobrimos no próprio caminhar, para além do material, por meio do sonhar, imaginar e rememorar.
Os poemas são uma dança lírica que trazem a percepção de um entre-lugar, onde a palavra não é apenas uma linha de partida ou de chegada, mas o próprio movimento.
Os principais temas do livro são a travessia do cotidiano, o autoconhecimento, as transformações internas e externas e a mescla de imagens entre passado, presente e futuro.
Quer atravessar esse caminho comigo (e deixar uma escritora independente mais feliz hoje)? Garanta o seu exemplar do Passagem de Ida e Volta no site da Editora Folheando.
Vou amar contar com a sua leitura!
Por hoje é só! Para conversar comigo, é só responder esse e-mail, deixar algum comentário no substack ou me encontrar em outros canais também: estou no Instagram e no blog.
Obrigada por ler até aqui ♥️
Um beijo!