Oi, tudo bem? Sou Priscilla ✨ A escrita, pra mim, tem sido um cantinho de pegar mais fôlego nesses dias. Hoje trouxe um conto híbrido, que escrevi na oficina da escritora Yara Fers. Boa leitura! <3
Ah, e se quiser ouvir, aproveitei pra gravar um áudio lendo o texto. :’) Um beijo! 💖
Marina acordava meio em dúvida sobre como seria seu humor. Ela era meio cais, algumas vezes, e beira-mar em outras. Dependia do estado das coisas e, além de tudo, a conjuntura atual do país não ajudava. O embarque e desembarque de emoções era um fluxo, por vezes, desconhecido
~ do amanhã indo e vindo ~
permeado por cargas que
nem sempre levavam o seu nome
e passageiros inconstantes
_ o imprevisível à margem _
parte de Marina desejava saber conter as águas, entender como direcioná-las da melhor forma. Ela queria tanto saber como aproveitar esse seu lado oceânico, mas tinha medo de se afogar em suas afluências.
a sinuosidade
o zigue-zague
transbordava em uma torrente cíclica de sensações que não batiam à porta e sempre encontravam um lugar para falar mais alto em seu coração
o corpo discorrendo em gestos
os OlhOs abertos
sem conter a luz
que expande as pupilas
e a vontade de continuar indo
atravessar um oceano exige um fôlego mais extenso, mas Marina já sabia disso. O significado do seu nome, provido de instalações para guarda e manutenção de embarcações, a preparou desde cedo.
Do mar, os pulmões abrindo \ / e fechando / \ para direcionar os peixes enquanto as algas balançam indefinidamente.
Marina deixa o ar passar e sair, feito quem toca sanfona, com a coragem de nunca parar de dançar entre o cais e o fluxo.
Por meio da edição passada, recebi algumas mensagens de pessoas que falaram sobre a perda da esperança após a apuração de votos no domingo. Confesso que também senti o baque, e esses dias foram como uma ressaca de algo que pesou no corpo. É assustador em alguns momentos ver até onde o país retrocedeu.
Tenho tentado buscar lugares de refúgio, como a escrita, a leitura e a arte, para respirar e ver que, apesar de tudo, ainda há motivos para acreditar que vamos sorrir mais ao final desse mês.
A esperança e a busca por ver estrelas em meio a essa escuridão não podem ser tiradas de nós, e é com elas que podemos renovar nossas forças para prosseguir na caminhada.
Um abraço apertado em você, amor e luz para enfrentar esse percurso.
Num país como o Brasil, manter a esperança viva é em si um ato revolucionário.
Paulo Freire
o que tenho visto por aqui
📚 Comecei a ler o livro de poesia A mesma vida é outra, de Renata Ettinger. A obra reúne vários poemas sensíveis, potentes e profundos em uma edição muito cuidadosa. Para conhecer mais sobre o trabalho da Renata, comprar o livro e se apaixonar também, é só falar com a autora pelo instagram. Aqui vai um dos versos que ressoou em mim:
é desse tempo
lutar guerras
simultâneas
combater
inimigos múltiplos
que apenas
pressentimentos
ameaças tão cheias
de realidade
mas fora do alcance
das mãos
Renata Ettinger
📚 Nessa semana, também dei início à leitura da obra Flor de Gume, de Monique Malcher, vencedora do Prêmio Jabuti 2021 na categoria Conto. A narrativa e as colagens da autora nos levam a um lugar cheio de linhas de vida, mulheres, e os rios do Pará. Conheça mais sobre o trabalho de Monique e peça o seu livro pelo instagram da autora. Segue um trecho pra você ter vontade de ler também:
Quando mainha fazia a boca de lobo na rede, virando o punho de modo a criar duas orelhas de coelho que se encontram - para a bunda não encostar no chão ao sentar -, achava lindo. Era como se preparasse as cordas de um violão e a música tinha o formato de calmaria. Banho tomado, de talco no pescoço, ia embalando, embalando, embalando. Cortando o rio para chegar em casa, mas ali também era nossa casa e me gabava das redes bonitas que minha vó costurava, que tinham nas varandas muitas rosas de crochê, os punhos trançados, diferentes dos outros punhos, eram obras de arte. Mamãe conta que teve uma vez que caímos de bunda, a rede rasgou ao meio. Rimos. Rir era bom para sentir o movimento da vida e não ter medo do balanço. Pintava o sete com minha revistinha para passar o tempo, que voava, cortando o rio e meu coração.
Monique Malcher
outras ondas
O debate religioso na corrida presidencial
O novo álbum de Tulipa Ruiz
uma conchinha na beira do mar
Obrigada por ler até aqui! 💖
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Bom restinho de semana e até a próxima!
Um beijo 💫