Setembro chegou, e muitos de nós já estamos pensando no final do ano. "Quando chega o 'bro', o ano passa voando", né? O tempo das coisas parece se dobrar em uma efemeridade tão acelerada quanto a dos algoritmos e das máquinas, mas será que precisa ser assim?
Cada vez mais as demandas de trabalhos e estudos parecem ter prazos mais apertados, e é até difícil não se ver com a necessidade de correr para dar conta de tudo. É realmente difícil encontrar pessoas que, com tantos compromissos, consigam ter momentos de descanso sem aquela pontinha de culpa, e isso acaba se estendendo para outras áreas da vida e do corpo.
Quando vencemos uma etapa, às vezes nem conseguimos comemorar e já começamos a pensar nas próximas, feito um jogo de videogame que nunca tem fim (a não ser quando a gente realmente precisa dar um pause ou recomeçar).
Ao sair da sala de um cinema, por exemplo, algo que era para ser uma imersão em um outro mundo ou pelo menos um momento de se desligar da velocidade das redes e atentar para uma obra audiovisual, há quem já queira saber o que você achou do filme, qual nota você deu, o que você mais gostou, qual foi a sua cena preferida, enfim. Será que não seria legal ter algumas horinhas a mais para elaborar esses pensamentos e, quem sabe, até aprender algo novo ou perceber algo que não tinha notado antes?
Tenho refletido muito sobre esse tempo necessário de decantar um conhecimento apreendido, um momento não apenas para pensar a respeito do que foi visto, mas para refletir sobre como você percebeu as coisas com as quais teve contato, fazendo uma mescla com a sua bagagem e também com o que ainda tem vontade de descobrir.
Sabe quando você começa a se aventurar mais na cozinha, descobrindo uma nova receita, e percebe que a refeição fica muito melhor quando passa mais tempo marinando no tempero ou sendo cozinhada com mais atenção e afeto?
É importante diferenciar o tempo das máquinas e do corpo, fazer a tentativa de ir na contramão do tempo das cidades e das mídias, sempre que possível, encontrar formas de criar o seu próprio tempo nem que seja nas frestas do dia a dia para, assim, enxergar outras possíveis luzes e sombras.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim um atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
O apanhador de desperdícios, de Manoel de Barros
Como você pode valorizar mais o seu tempo e contemplar o que lhe envolve sem pensar somente nas tarefas como urgências? Quais coisas desimportantes podem receber mais a sua atenção?
Meu desejo de hoje é que possamos conseguir pensar no que mais importa e no que pode ser contemplado, respeitando a nossa própria velocidade, com um olhar de encantamento e esperança, nos versos dos dias.
o que tenho visto por aqui
✍️ Fiz um post no blog para falar sobre 5 livros de poesia de autoras brasileiras que li nesses últimos meses. Clica aqui para ler também 💖
🎞️ Vi os filmes O quarto do filho (2001) e Abril (1998), os dois do diretor Nanni Moretti, que estão disponíveis no Mubi. Achei muito bonita a forma como o diretor consegue abordar temas tão pesados e profundos — como o luto, a depressão e a política — e dialogar com eles por meio de um caminho onde a alegria ainda se faz presente, onde é possível enxergar o riso e a vontade de dançar, sem esquecer das rachaduras, dos percalços e da luta. As imagens, os diálogos e monólogos dos filmes são um espetáculo à parte.
📚 Li Cerveja Amarga, da escritora e professora Rebeca Maia, um livro cheio de contos potentes e sensíveis que falam sobre mulheres, vida, cotidiano, relacionamentos, luta e luto, escrita e, principalmente, sobre os elos e aprendizados envoltos pelo verbo amar. Amei a leitura, e pretendo falar um pouco mais sobre a obra no blog. Para adquirir o livro e se encantar também, você pode falar com a autora Rebeca Maia pelo instagram dela ou diretamente pelo site da Editora Ipê Amarelo. Segue um dos trechos que marquei ao ler o livro:
Almejo agora ser alguém que ainda não sou por completo e que também nunca pensei em ser, mas que ando gostando de me tornar, porém não sei quem será exatamente.
outras ondas
Um diário feito com colagens
Por que escrever? — um post de Rafaela Amiz
O céu não é o limite, um poema de Beatriz Caldas
A síntese do ódio bolsonarista, um texto de Jeferson Tenório
Um crochê sobre o tempo das coisas, de Jamille Queiroz
uma conchinha na beira do mar
Tenho enviado a newsletter toda quarta-feira, mas preferi enviar hoje por amanhã ser feriado. Obrigada por me acompanhar aqui e uma ótima semana!
Vamos conversar? Você pode falar comigo por aqui, pelo Instagram ou pelo blog. 💖
Mensagem na garrafa é um projeto independente e autoral de uma publicitária freelancer e mestranda em comunicação, que usa a escrita como forma de respirar. Para apoiar, você pode compartilhar a newsletter com mais pessoas, me pagar um cafezinho no Ko-fi ou enviar um pix para priscillapinheiro93@gmail.com :)
Um beijo e até a próxima quarta-feira!
Sempre mais já vem embutido junto com o cordão umbilical. Mas há de ter jeito de desacoplar...
semana passada me peguei trabalhando mais do que precisava e do que demandavam, numa luta incessante para ficar sem tempo e sem energia para esses vazios tão importantes. é triste, mas em momentos de turbulência vejo que me agarro ao trabalho como uma forma de preencher esse tempo, evitar o devaneio, o livre pensar, o descansar. seu texto me fez parar e lembrar que, por mais que tenha medo do silêncio em vários momentos, tenho que parar um pouco. respirar. e descolar o meu tempo do tempo das máquinas. obg <3