Nessa semana já vamos passar da metade de abril, e uma das coisas que mais tenho ouvido é que o tempo tem passado mais rápido que o normal. Você também tem sentido isso? O dia e a noite estão mais curtos ou é a nossa impressão que faz o céu escurecer e clarear mais rápido?
Apesar de o relógio na parede apontar as horas, os minutos e segundos de forma matemática, uniforme e constante, a consciência a respeito do tempo é modificada de acordo com as subjetividades de cada pessoa, podendo ser mais rápida ou devagar, a depender das emoções e atividades do dia a dia.
A passagem do tempo e a questão de este não ser linear é uma das questões que permeiam o trabalho de Luis Camnitzer — artista uruguaio, que utiliza a arte como uma ferramenta para organizar e obter novas informações por meio da descontextualização de objetos familiares — e uma das suas obras que falam sobre isso é a instalação The Time Project (2017).
A instalação elabora uma narrativa ao redor do tempo, invertendo as noções de progresso e desenhando uma alternativa para a passagem da temporalidade, de forma indefinida e contínua, como um fenômeno circular.
Essa instalação faz uso de vários indicadores de passagem do tempo, tanto por meio de máquinas quanto de aspectos culturais e naturais. Camnitzer enquadrou a projeção de um riacho no meio de uma floresta logo na passagem da porta da sala onde fica a instalação e, dentro dessa sala, colocou dois relógios de parede modificados e em lados opostos da galeria.
Além dos relógios modificados pelo artista — em que um contém um emaranhado de barbantes entre os ponteiros, e o outro fica pendurado de cabeça para baixo — a exposição The Time Project (2017) também apresenta um vídeo, pelo qual é possível ouvir sinos de uma igreja e um som ambiente de natureza.
O som dos sinos, em determinado momento da vídeo-instalação, param de ser anunciados e, com isso, o tempo passa a ser marcado pelo fluxo da água, o que inverte a ideia de progresso ou linearidade.
A autora Ecléa Bosi (2018) destaca que “a percepção coletiva abrange a pessoal, dela tira sua substância singular e a estereotipa num caminho sem volta. Só os artistas podem remontar a trajetória e recompor o contorno borrado das imagens, devolvendo-nos sua nitidez” (BOSI, 2018, p. 53), explicitando o aspecto circular da passagem dos dias e a importância das ferramentas artísticas para dar voz ao que pode ter sido silenciado, omitido ou negado com o passar do tempo tanto de forma social e coletiva quanto pessoal e afetiva.
De quais formas você pode recompor a melodia do tempo, no seu ritmo, para não se guiar apenas pelos ponteiros e pelo calendário?
obrigada por ler até aqui ♥️
até a próxima semana!
um beijo,
Lindo demais Pri!!!
Que lindo "recompor a melodia do tempo" ♡